Um revolucionário do passado se tornou septuagenário neste domingo, 1º de maio. Cidadão Kane, de Orson Welles, que para muitos críticos e pesquisadores é o principal marco do cinema moderno (e, segundo boa parte dos especialistas, o melhor filme de todos os tempos), teve sua pré-estreia em Nova York em 1º de maio de 1941. A estreia mesmo ocorreu apenas em setembro daquele ano. Os quatro meses de diferença foram gastos com a tentativa de emplacar campanha publicitária à altura dos custos da obra, o que nunca ocorreu, e a pressão da produtora RKO sobre Welles para convencê-lo a mudar algumas coisas (o contrato entre eles não autorizava a empresa a mexer no filme sem consentimento do diretor) - o que também não aconteceria -, de modo que o Cidadão Kane a que assistimos foi realmente aquele desenvolvido pelo cineasta.
Se a tal campanha maciça nunca ocorreu, foi por culpa do próprio enredo de Cidadão Kane. A história de Charles Foster Kane, a criança problemática que se torna magnata das comunicações, tinha cheiro demais de ser a biografia ácida, crítica e velada de um magnata das comunicações do mundo real, William Randolph Hearst. Segundo a mitologia hollywoodiana, esse teria simplesmente boicotado o filme de Welles em sua rede de rádios e jornais e pressionado outros veículos e boa parte da comunidade cinematográfica a fazê-lo também.
A importância de Cidadão Kane para os críticos e historiadores não vem de acréscimos que fez ao léxico cinematográfico. Boa parte das estruturas que o filme usa, como flashbacks, profundidade de campo, câmeras altas e baixas, já existiam bem antes de Orson Welles interromper sua bem-sucedida carreira no teatro e no rádio para se dedicar às telas. Welles atuou nos domínios da sintaxe cinematográfica: explorou cada um daqueles elementos no máximo de seu potencial ao investigar as possíveis relações entre eles e com o restante da linguagem do cinema de sua época. No processo, construiu novos sentidos para cada estrutura, apontou para contextos onde poderia ser usada com eficiência máxima como elementos narrativos.
Ironicamente, muitos dos que apontam Cidadão Kane como um dos maiores filmes da história se recusam a gostar dele. Poucas obras conquistam essa posição tão contraditória dos especialistas quanto o clássico de Orson Welles. Se alguém sair perguntando a críticos quais são seus filmes favoritos na obra do diretor, provavelmente receberá mais respostas para A marca da maldade, O processo, A dama de Shangai, Macbeth, Verdades e mentiras ou mesmo o singelo telefilme A história imortal. Cidadão Kane talvez seja perfeito demais para ser amado, é a explicação que a maioria dá. Essa obra tão impecável, tão ousada, acaba parecendo fria para a maioria das pessoas, mais apta a excitar o cérebro que o coração. Pode ser. Mas é só ver o que é a produção industrial da atualidade, de blockbusters como Avatar (de James Cameron) a criações autorais como Biutiful (Alejandro González Iñarritu), para constatar: todos aprendemos direitinho as lições dadas por Cidadão Kane.
Se a tal campanha maciça nunca ocorreu, foi por culpa do próprio enredo de Cidadão Kane. A história de Charles Foster Kane, a criança problemática que se torna magnata das comunicações, tinha cheiro demais de ser a biografia ácida, crítica e velada de um magnata das comunicações do mundo real, William Randolph Hearst. Segundo a mitologia hollywoodiana, esse teria simplesmente boicotado o filme de Welles em sua rede de rádios e jornais e pressionado outros veículos e boa parte da comunidade cinematográfica a fazê-lo também.
A importância de Cidadão Kane para os críticos e historiadores não vem de acréscimos que fez ao léxico cinematográfico. Boa parte das estruturas que o filme usa, como flashbacks, profundidade de campo, câmeras altas e baixas, já existiam bem antes de Orson Welles interromper sua bem-sucedida carreira no teatro e no rádio para se dedicar às telas. Welles atuou nos domínios da sintaxe cinematográfica: explorou cada um daqueles elementos no máximo de seu potencial ao investigar as possíveis relações entre eles e com o restante da linguagem do cinema de sua época. No processo, construiu novos sentidos para cada estrutura, apontou para contextos onde poderia ser usada com eficiência máxima como elementos narrativos.
Ironicamente, muitos dos que apontam Cidadão Kane como um dos maiores filmes da história se recusam a gostar dele. Poucas obras conquistam essa posição tão contraditória dos especialistas quanto o clássico de Orson Welles. Se alguém sair perguntando a críticos quais são seus filmes favoritos na obra do diretor, provavelmente receberá mais respostas para A marca da maldade, O processo, A dama de Shangai, Macbeth, Verdades e mentiras ou mesmo o singelo telefilme A história imortal. Cidadão Kane talvez seja perfeito demais para ser amado, é a explicação que a maioria dá. Essa obra tão impecável, tão ousada, acaba parecendo fria para a maioria das pessoas, mais apta a excitar o cérebro que o coração. Pode ser. Mas é só ver o que é a produção industrial da atualidade, de blockbusters como Avatar (de James Cameron) a criações autorais como Biutiful (Alejandro González Iñarritu), para constatar: todos aprendemos direitinho as lições dadas por Cidadão Kane.
Por Marcello Castilho Avellar, do Estado de Minas
Prêmios:Oscar: Vencedor dos Prêmio de Melhor Roteiro - Indiaco aos Prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Direção de Arte, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Fotografia.
Associação de Críticos de Nova York: Vencedor do Prêmio de Melhor Filme
Associação de Críticos de Nova York: Vencedor do Prêmio de Melhor Filme
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